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Rio de Janeiro e o dilema libertário...
Bem-vindos ao nosso giro semanal sobre liberdade!
O Rio de Janeiro pegou fogo ontem, depois de uma megaoperação que matou vários traficantes.
Antes de dormir, me deparei com um dilema:
Até onde o Estado deve ir nesse tipo de situação?
Por que eu estava comemorando a morte de terroristas?
Se o Estado e as facções criminosas são faces da mesma moeda, duas organizações armadas que impõem autoridade pela força, por que então eu comemorava quando bandidos eram mortos?
Será que o Estado deveria mesmo ser responsável pela segurança pública?
Ou será que, na prática, esse poder de “proteger” sempre acaba se corrompendo?
O Estado alegou ter justificativa para invadir as favelas, haviam mandados de prisão a serem cumpridos.
Mas a pergunta é: ele estava protegendo alguém, ou apenas reafirmando seu monopólio da violência?
E se não fosse o Estado, quem protegeria as pessoas que vivem nessas comunidades, reféns de um “Estado paralelo” dominado pelo crime?
Esse é o tipo de pergunta que divide até os libertários.
Porque, na teoria, a resposta parece simples.
Mas quando a realidade estoura na tela da TV, com tiros, sirenes e crianças presas em casa, a teoria começa a balançar.
Nas próximas linhas, quero destrinchar esse dilema com você.
Sem idealismo.
Sem utopia.
Só a realidade nua e crua, e o que ela revela sobre o papel do Estado numa sociedade que já perdeu o controle da própria liberdade.

A teoria é clara. A prática, nem tanto.
Vida, liberdade e propriedade.
Esses seriam os pilares mínimos de uma sociedade verdadeiramente livre.
Mas no Brasil, o Estado falhou nas três.
No Rio, o cidadão não tem direito à vida: pode ser morto por um bandido a qualquer momento.
Não tem direito à liberdade: porque vive cercado por leis que o impedem até de se defender. Por exemplo, o desarmamento.
E tampouco tem direito à propriedade: porque até dentro de casa ele não está seguro.
Em algumas favelas dominadas por facções, criminosos literalmente expulsam moradores de suas próprias casas para alugar o imóvel a outra pessoa.
Uma espécie de “socialismo do crime”: o Comando Vermelho decide quem tem o direito de possuir algo, e quem deve perder.

A defesa da propriedade privada é o alicerce da liberdade individual.
Quando o direito de possuir e usar o que é seu depende da permissão de alguém armado, você não é dono de nada. Nem da sua casa, nem da sua vida.
E o mais perverso é que esse mesmo Estado, que falha em proteger a propriedade nas favelas, é o primeiro a confiscar o seu patrimônio legalmente, via impostos.
Ou seja: na favela, o traficante toma à força; fora dela, o Estado toma com selo e carimbo. E depois usam a força.
O paradoxo do “Estado protetor”
Quando o Estado invade uma favela, ele não o faz por empatia.
Ele o faz para mostrar quem manda.
É o mesmo instinto de poder que move o tráfico, o de impor autoridade pelo medo.
A diferença é que o Estado é respaldado por “leis”.
Mas quando esse tipo de medida é tomada, a gente também não pode cair na armadilha de julgar apenas as intenções.
Num país em colapso moral, intenções não salvam ninguém.
O que precisa ser analisado — com frieza — são os efeitos reais das ações, e não o quão “bonzinhos” ou “autoritários” são os seus autores.
Às vezes, uma decisão tomada por um motivo errado produz um resultado temporariamente certo.
Só que, ironicamente, as facções nasceram justamente porque o Estado falhou em cumprir seu dever mínimo: garantir segurança.
E o vácuo que ele deixou foi ocupado por quem sabia usar a força.
O dilema moral que resta
E é aqui que o conflito realmente aperta.
Porque, mesmo entendendo tudo isso, eu ainda senti alívio vendo aqueles traficantes mortos.
Não por prazer, mas por cansaço.
Cansaço de ver o mal triunfando enquanto o bem parece impotente.
Por mais que eu queira ver bandido morrer, sei que o dinheiro que financia aquela guerra vem do meu bolso — e que, se eu parar de bancar esse monstro, arrisco ser assassinado.
E é aqui que o dilema moral se instala.
Porque, sim, eu comemorei a morte de traficantes.
Mas comemorar a vitória do Estado é quase comemorar o sucesso de um câncer que mata outro tumor.
O libertário em mim se decepciona com a intervenção estatal.
Mas o realista em mim entende o desespero de quem só quer poder andar na rua sem tomar tiro.
O problema é que toda vez que o Estado avança em nome da “segurança”, ele avança também sobre a nossa liberdade.
E a história mostra: o Estado nunca devolve o poder que conquista.
Friedman dizia que cada expansão do poder estatal vem disfarçada de uma boa intenção.
E a segurança é o pretexto perfeito.
Porque ninguém questiona um governo que mata “em nome da lei”.
Mas, aos poucos, esse poder absoluto deixa de mirar o traficante e começa a mirar o cidadão comum.
Entre o medo e a liberdade
Mesmo assim…
eu não consigo condenar completamente a operação.
A verdade é que ausência de Estado não é ausência de ordem.
O questionamento “quem protegeria as pessoas sem o Estado?” parte de uma falsa premissa — porque em uma sociedade livre, as próprias pessoas deveriam ser capazes de se organizar, se armar e se proteger sozinhas, ou em acordo com sua comunidade.
Mas analisando friamente, por mais imperfeito e hipócrita que o Estado seja, ele no Rio de Janeiro, é a única força capaz de dar um mínimo de paz às pessoas honestas que vivem nas periferias.
Gente que só quer sair para trabalhar, criar seus filhos e voltar viva para casa.
Talvez seja esse o preço do colapso moral que vivemos:
precisar de um Estado que odiamos, para nos proteger de monstros que ele mesmo criou.
O caminho correto seria a descentralização da segurança, da responsabilidade e da autodefesa. Mas, no cenário atual do Brasil, isso é quase uma utopia.
Então, emocionalmente, é natural torcer pelo Estado, porque, entre dois monopólios da força, ao menos um deles ainda é composto por indivíduos com algum senso de justiça.
Os policiais do BOPE não são demônios.
Os bandidos do comando vermelho, sim.
E enquanto não houver uma alternativa real, o dilema continua, entre o desejo de paz… e a guerra necessária para sustentá-la.
Não confie no regime.
Acorde, se proteja... e me siga lá no Instagram.
